A Arte da Memorização – Parte 1

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Aviso: há um vídeo no final deste post!!!

Após a fatídica notícia sobre a extinção de 100 cargos no Senado Federal, nada melhor do que seguir firme na batalha dos estudos. Neste post, iniciarei a escrita sobre a Arte da Memorização!

Memorização é o processo de recuperação de informações previamente armazenadas em nosso cérebro. Pronto, isso é tudo que escreverei sobre teoria chata que mais atrapalha do que ajuda. Se quiser conhecer os tipos de memória (de curta duração, de longa duração, sensorial, etc.), os neurônios, as sinapses, a anatomia cerebral e tudo mais que em nada te ajudará a passar em concursos, recomendo a leitura de bons livros sobre o assunto.

Antes de prosseguirmos, quero deixar um alerta: cuidado com os produtos milagrosos que são vendidos por aí. Não existe esse negócio de “memorização sem esforço”. Memorizar é exercitar o nosso cérebro, nossa criatividade, nossa imaginação. É como treinar o nosso corpo através de exercícios físicos, ou seja, é um processo – uma atividade contínua – que exige dedicação e empenho, principalmente no início. Sendo bem sincero: em um curso de memorização para 100 alunos, menos de 5% destes irão, realmente, praticar e implementar as técnicas aprendidas. A maioria fica empolgada com o que é falado, mas depois de uma semana cai tudo no esquecimento. Isso é bom para quem aplica as técnicas, pois larga na frente! Melhor ainda para quem vende cursos nessa área, pois o “cliente” acaba voltando no próximo curso!

(“Puxa Akilez, eu só estou lendo este post para aprender tudo que você tem a ensinar e depois sair vendendo por aí, dizendo que fui eu que inventei! Falando assim, você você acabará espantando minha futura clientela!!!“).

Enfim…

Existem diversas técnicas de memorização (associação, encadeamento, técnica mnemônica, alfabeto fonético, palácio da memória, memorização de datas, memorização de números binários, memorização de rostos, etc.) mas você não precisa conhecer todas essas técnicas! Quem precisa conhecê-las muito bem são os atletas da memória, aqueles que participam de campeonatos de memorização. No nosso caso, em que só queremos ser aprovados no concurso público, não precisamos nos preocupar com toda essa nomenclatura!

Apenas a título de informação, minha base sobre este assunto é bem extensa. Fiz meu primeiro curso de memorização em 1996. De lá para cá não parei mais de estudar sobre esse fascinante assunto. Estou dizendo isso, pois o meu objetivo aqui é que você não perca tempo lendo qualquer coisa por aí. Eu tenho o seguinte hábito: gosto de “beber” o conhecimento na “fonte”. Em matéria de memorização, se quiser se aprofundar sobre o assunto eu recomendo a leitura dos livros do Dominic O’Brien. O Dominic é simplesmente o maior recordista em campeonatos de memorização (detentor de 8 títulos mundiais). Preciso dizer algo mais? Existem outros livros. Este aqui, por exemplo, tem tradução para a língua portuguesa e é muito utilizado por quem está iniciando os estudos. De qualquer forma, se a leitura em inglês não for um problema para você, então recomendo que mergulhe fundo na bibliografia do Mestre Dominic! Lembrando que nesses livros você aprenderá mais do que precisará para passar em concursos públicos. Muitos assuntos não se aplicam a nossa realidade, mas com certeza ajudam a abrir nossa mente.

A Base da Memorização

Neste post irei escrever apenas sobre a parte básica da memorização. Sei que para muitos isso é bem elementar, mas quero construir uma linha de raciocínio aqui, ok? Tenha paciência nobre amigo(a). Sei que as pessoas que estudam para o concurso do Senado Federal já possuem certa bagagem e experiência, mas também me preocupo em ajudar aos colegas que estão começando agora sua caminhada no mundo dos concursos. Tenhamos, pois, paciência. Vamos lá…

Imagine que você está passeando feliz e contente em um movimentado shopping de sua cidade. Você está acompanhado(a) com seu melhor amigo (“Akilez, meu melhor amigo é meu cachorro“). Tudo bem, serve também. Vocês terminam de comprar (“Posso comprar não, Akilez. Estou desempregado(a)“), digo, lanchar (“Posso lanchar também não, Akilez. Estou juntando dinheiro para pagar a inscrição do concurso“), digo, olhar as vitrines das lojas sem comprar nada (“Isso Akilez! Eu fico só imaginando o que irei comprar ao receber minha primeira remuneração do Senado Federal!). Enfim, o certo é que no final do passeio, quando vocês estão retornando de carro para casa (“Akilez, não tenho carro!“), ou melhor, de ônibus (“A passagem está cara demais, Akilez! Só ando de bicicleta do Itaú!“).

Ahhhh… cansei!!! É o seguinte: você está voltando à pé para casa e seu amigo(a), namorado(a), cachorro, papagaio, periquito ou outro ser qualquer te pergunta:

Você lembra daquele rapaz de blusa azul no shopping?

Em 99,99%, dos casos sua resposta será:

Que rapaz? Não estou me lembrando não!

Agora imagine que a pergunta tenha sido esta:

Você viu no shopping aquele rapaz com roupa de palhaço, um abacaxi na cabeça e plantando bananeira em cima do balcão do McDonald’s?

Sua resposta provavelmente será:

Sim, eu vi! Que cara doido! Deve estar querendo aparecer ou então endoidou de vez!

Endoidar de vez” é justamente a base da memorização! Nosso cérebro é acomodado por natureza. Tudo aquilo que é comum (pessoas normais passeando em um shopping, por exemplo) não desperta a atenção do nosso cérebro, que é acomodado por padrão e sempre busca ficar quietinho na dele – evitando ao máximo o esforço desnecessário.

Quando vemos algo totalmente diferente do comum, inusitado ou extravagante, a tendência é que nosso cérebro saia dessa zona de conforto e entre no estado de alerta a fim de saber sobre o que se trata essa “aberração”.

Memorizar, em síntese, envolve:

  • Pensar em algo fora do comum;
  • Pensar de forma exagerada, em tamanho desproporcional (uma formiga gigante engolindo um elefante minúsculo, por exemplo);
  • Utilizar cores (quanto mais colorido melhor);
  • Colocar movimento nas imagens (de preferência de forma inusitada e anormal);
  • Utilizar humor (quanto mais engraçado melhor);
  • Utilizar rimas, sons, barulhos, etc.;
  • Aplicar sentidos (olfato, audição, tato, paladar e visão) na imagem mental;
  • Brincar com a imagem mental (uma bola se transforma em um avião, que se transforma em um rato e por aí vai).

A parte boa é que nós brasileiros, acostumados com tantas dificuldades e lutas, aprendemos naturalmente a pensar “fora da caixa”. Somos criativos por natureza, não é mesmo?

 

Churrasgato

A Técnica Fundamental

Eu poderia escrever sobre as mais diversas técnicas de memorização mirabolantes, mas eu sei que isso mais atrapalharia do que ajudaria. Até porque eu sei que a maioria não irá praticar mesmo (“Poxa Akilez eu vou praticar sim, prometo! Continue, por favor, tô gostando!“). Valeu mãe, mas seu interesse não conta! 🙂

É o seguinte, meus dois queridos leitores: a base da memorização é transformar em imagens tudo aquilo que você deseja memorizar. Essas imagens devem seguir o padrão já descrito anteriormente: exagerada, colorida, fora do senso comum, etc. O motivo disso é a velha máxima que todos conhecemos: uma imagem vale mais que mil palavras!

O problema dos cursos de memorização (quem já fez talvez concordará comigo) é que você chega lá e o “professor” te ensina a memorizar esta lista de palavras:

  • 1. Árvore;
  • 2. Carro;
  • 3. Cadeira;
  • 4. Lápis;
  • 5. Televisão;
  • 6. Etc.

O problema é que você chega em casa, até animado para praticar os novos ensinamentos, e se depara com o seguinte artigo da Constituição Federal de 1988:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Cadê o carro, a árvore, a cadeira, etc?

Aproveitando o ensejo, alguns costumam me perguntar:

Akilez, é possível memorizar completamente a Constituição Federal de 1988, sem perder uma palavra?

A resposta é:

Sim!!!

Todavia, a vida é feita de escolhas e acredito que o tempo que você irá investir na memorização da CF/88 poderia ser investido para estudar todas as matérias do edital do seu concurso, ao menos umas 3 vezes cada disciplina. Memorização não é “a ferramenta única e infalível” a ser utilizada nos estudos. Trata-se apenas de mais uma ferramenta poderosa que você deve conhecer e adicionar no seu “canivete suíço” de técnicas de estudo.

O que recomendo é que sejamos espertos, ou seja, vamos memorizar o que é fundamental. Eu costumo memorizar tudo aquilo que tem grande chance de cair em redações do tipo “peça técnica” ou do tipo
“cenário hipotético” (quando o CESPE coloca uma situação hipotética e coloca alguns itens para analisarmos e depois respondermos em 20 linhas).

Agora que já sabemos que a memorização é uma ferramenta e que devemos aplicá-la com sabedoria, vamos ver alguns exemplos práticos que inventei, de bobeira, enquanto estava estudando português. Utilizei basicamente técnicas mnemônicas simples, sons parecidos e algumas imagens mentais:

1. Qual é a forma correta de escrita da seguinte palavra: “retensão” ou “retenção“?

Eu imagino (é importante visualizar mentalmente a imagem) a seguinte frase: “O Rei Tem Cão“, ou seja, o correto é retenção (reitemcão). Em tempo: eu sei que existe uma regra ortográfica para isso! O objetivo aqui é mostrar a técnica de memorização, ok?

  
Retencao
  

2. Como se escreve a palavra a seguir: “pretensão” ou “pretenção“?

Essa eu penso assim: Qual é a palavra que automaticamente vem à mente ao pensarmos na palavra acima? É uma palavra que praticamente pula aos olhos quando pensamos nessa palavra.

A resposta é a palavra salário! Logo, pretenSão Salarial! A letra “s” da palavra salário ajuda a lembrar que pretensão se escreve com “s“.

Quanta besteira, Akilez!!!“. Sim, quanto mais bobo melhor! 🙂

Prefiro usar o corretor automático do WhatsApp!”. Certo, mas não podemos usá-lo nas provas! 🙁

3. Esta é para você tentar responder:

[C ou E] No trecho “Aquiles derrotou muitos exércitos, conquanto tenha sempre lutado ao lado de poucos guerreiros!“, a palavra destacada “conquanto” poderia ser corretamente substituída pelo vocábulo “porquanto” sem prejuízo gramatical ou semântico.

Resposta (passe o mouse): Errado.

Para não errar nunca mais, imagine alguns ladrões roubando carros no meio da rua.

 
Conquanto
  

Agora associe essa situação à frase abaixo:

Com quantos (conquanto) carros eles (os ladrões) foram embora?

Imagine uma quadrilha indo embora com os carros! Apesar da imagem ilustrativa acima, tente imaginar que os ladrões estão com os carros nas costas, dentro da mochila de cada um deles. Você também pode imaginar que os carros estejam sem gasolina e os ladrões estejam empurrando eles. Imagine que tenha alguém dando chicotadas atrás de cada ladrão e gritando “rumbora, rumbora!” (lembrando “embora, embora”). Imagine ainda que os carros possuam olhos, boca e nariz, ou seja, que possuam vida! Imagine que os carros fiquem empacando que nem jumento birrento no meio da rua, sem querer andar!

Ou seja, a palavra conquanto significa “embora“. Trata-se de uma conjunção concessiva.

E a palavra porquanto significa isto:

Porquanto

A palavra porquanto significa porque (com sentido de “pois“). Trata-se, portanto, de uma conjunção explicativa.

Puxa Akilez, que legal!!! Tem mais? Tem mais??? Quero maisss!!!”

Bom, não posso mostrar muita coisa senão você passa na prova e eu não, ops, quer dizer… bem… veja bem… é que só tenho isso mesmo! Estou fraco de memorização! Serve aquela do LIMPE (art. 37 da CF/88)? 🙂

Brincadeirinha, amiguinho! Vamos mostrar mais algumas besteirinhas:

4. Você sabe a diferença entre a expressão “de encontro a” e a expressão “ao encontro de“? Então complete estas frases:

4.1. Aquiles foi […] Briseis para lhe entregar uma flor. (ao encontro de / de encontro a)

Resposta (passe o mouse): Aquiles for ao encontro de Briseis para lhe entregar uma flor.

4.2. As ideias de Aquiles foram […] de Agamenon e os dois lutaram até a morte devido às divergências. (ao encontro das / de encontro às)

Resposta (passe o mouse): As ideias de Aquiles foram de encontro às de Agamenon e os dois lutaram até a morte devido às divergências.

Aqui é uma questão mais “sonora”. Na expressão “ao encontro de“, o vocábulo “ao” me lembra ALTO. Repete aí para você perceber: “ao, alto… ao, alto… ao, alto”. E o vocábulo alto me lembra uma escada! Logo, “ir ao encontro” é concordar com algo ou alguém. É “subir a escada” e dizer: “eu concordo contigo!”.

Ao_Encontro

Já a expressão “de encontro a” é justamente o contrário, ou seja, significa discordância (dissonância)! É discordar de algo ou alguém. A expressão que me vem à mente é a famosa “bater de frente“. Bater de frente nunca é bom! Por outro lado, ir ao encontro da pessoa amada é sempre bom, não é mesmo? 🙂 (“Puxa Akilez, você está romântico hoje hem?“)

Eu imagino a seguinte imagem (pode ser também um carro batendo de frente com outro veículo):

De_Encontro

Conclusão

Na continuação desse assunto eu falarei sobre as duas técnicas mais utilizadas pelos mestres da memorização. Com elas vocês farão muito estrago por aí! Claro, quando eu digo “vocês” eu me refiro aos que de fato irão treinar, praticar e dominar essas estratégias! Estamos, por enquanto, engatinhando no assunto. Aguardem, por favor, as cenas dos próximos capítulos.

O segredo está na prática incessante! Lembre-se: podemos memorizar qualquer assunto, seja ele complexo ou não. Uma grande dificuldade que vejo nas pessoas que estão tentando aplicar técnicas de memorização está no fato de não conseguirem pensar em imagens. A maioria relata que não tem criatividade para criar imagens ou pensar em coisas exageradas, coloridas, diferentes, etc.

Recomendo para essas pessoas algo que aprendi em um Curso Online sobre Aprendizagem que fiz tempos atrás na Universidade da Califórnia. Nesse curso (estão, inclusive, com inscrições gratuitas abertas para novas turmas) um dos entrevistados pela Dra. Barbara Oakley diz que se mantém criativo assistindo a desenhos animados. Achei isso fantástico e concordo totalmente! Quer ser mais criativo? Assista a desenhos animados do tipo Tom & Jerry, Pica-Pau ou Papa-Léguas e dê asas a sua imaginação.

E vocês, o que me dizem, quais técnicas utilizam? Acham que devo continuar a escrever a Parte II desse post ou devo parar por aqui?

Deixem, por favor, seus comentários!

Então é isso, Pessoal! Fui!!!

Opa! Peraí, Akilez!!! Deixa eu ver se entendi… Você falou no post o nome do “Santo”, mas não mostrou o “milagre”. Você citou o interesse das pessoas em memorizar o artigo 127 da Constituição Federal, mas não mostrou como fazer! Aí fica fácil, não é mesmo?!?!

Vixe!!! É mesmo. Você tem razão! 🙁

Para tentar me redimir, estimado(a) concurseiro(a), gravei um vídeo em que tento mostrar o basicão da memorização. Lembrando que esta foi minha primeira experiência com gravação de vídeo (quem for “fera” nesse assunto, favor me dar umas aulinhas). Dessa forma, peguem leve com as falhas deste pequeno gafanhoto chamado Akilez. Tentarei melhorar nos próximos! 🙂

    


  

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